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Temos (mesmo) que falar sobre... Ezra!

Posted on quinta-feira, 23 de agosto de 2012


Para iniciar vamos falar um pouco sobre o alucinante Ezra. 

Cuidado com ele! É uma verdadeira força da natureza, um menino prodígio a transbordar entusiasmo. Aos oito anos estreou-se nos palcos a cantar a ópera de Luísa Costa Gomes e, aos 15, agarrou o protagonismo de um nerd que explodiu em Afterschool (2009), um filme que lhe valeria o cognome de ‘rei do trauma adolescente’. Percebe-se que vive cada momento de forma efervescente. E fala alto, como se estivéssemos numa sala ao lado. Mas tem qualquer coisa de genuíno que atenua um certo excesso de auto-confiança. Nada mau para um ‘miúdo’ de 18 anos que se afirma como artista e que deveria ter sido candidato ao Óscar pela avassaladora prestação em "Precisamos falar sobre Kevin"

Em entrevista, conheça um pouco do Kevin, seu papel (até agora) que lhe rendeu mais holofotes:

A Lynn (escritora do livro que originou o filme) diz que chorou quando viu a sua audição...
 
Esse é um elogio tremendo! Foi uma grande honra. 
 
Digamos que era um papel que queria mesmo...
 
Eu estava fanático e faria qualquer coisa para o obter. Teria comido o vidro desta mesa, se fosse necessário... (risos sonoros) Se calhar, cortava-os aos bocados, mas comia. Quando li o guião senti uma realidade emocional. Senti que podia agarrar esta performance de uma forma honesta. 
 
O que o atraiu mais nessa leitura, nessa personagem?
 
No fundo, a forma como uma criança reage ao ser negligenciado. Acho que já todos sentimos essa falta de atenção. É isso que Kevin sente internamente. E como a mente não se apercebe disso, mas apenas em manipular.
Para um jovem de 18 anos, você parece-me muito seguro de si próprio. De onde lhe vem essa confiança?
 
Quando tinha oito anos fiz a produção de uma ópera surreal...
 
... Sim, o Corvo Branco, da portuguesa Luísa Costa Gomes!
 
Meu deus! Foi aí que tive uma verdadeira epifania psicadélica! E foi aí que percebi que nós, seres humanos, podemos fazer qualquer coisa. Tudo. Foi aí que percebi que queria ser um artista, performer, músico. Para mim, é tudo a mesma coisa. E o que tudo isso implica é uma enorme auto-confiança. Essa crença é o combustível da arte. 
 
Fico curioso sobre a sua infância. Fale-me dela. Onde viveu? Como eram os seus pais? O que o fez explodir assim para a vida?
 
Os meus pais fizeram uma coisa essencial. Nunca me falaram como uma criança. 
 
 
Presumo que estejam relacionados com arte...
 
Sim, a minha mãe é bailarina de dança contemporânea, e incorpora esse lado etéreo; já o meu pai é editor livreiro, mais organizador de pensamento.
Uma combinação interessante de genes... 
São quase os dois lados do cérebro humano (risos sonoros). Por isso acho que fazem um casal giro. Tenho ainda duas irmãs mais velhas, mas ambas muito criativas.
 
E onde viviam?
 
Crescemos numa casa nos subúrbios de Nove Jérsia que o meu tetravô construiu. Só que já não tinham aquela lado bucólico de outrora, mas sim uma natureza formatada.
 
A sua casa, não, presumo...
 
Não, não. A minha mãe deixou que a natureza invadisse o espaço de forma desconexa. Éramos uma excepção à regra (mais risos sonoros). E permitiram-me conhecer tudo aquilo com que me revolto.
 
Como foi esse encontro com a Lynn e a Tilda?
 
 Foi fantástico. Foi como se fosse convidado para tocar bateria numa banda com o Miles Davis e o Jimi Hendrix (mais... do mesmo)... Foi a maior honra. Sobretudo com a minha idade.

Sente o peso de ser considerado o ‘Rei do trauma adolescente’?
 
(risos?). Até dói... (mais risos) Não quero ser o rei de nada, mas experimentei a condição adolescente de uma forma profunda. E não deixa de ser simpático perceber que, de alguma forma, consegui ilustrar aquilo que é a parte mais negra da nossa existência. Muitos enchem-na com drogas e sexo ocasional, mas sem nunca a sociedade lhe dar nada para fazer. Depois admiram-se que os miúdos se convertam em serial killers na escola.
 
Calculo que a experiência de Afterschool tenha sido decisiva para essa associação...
 
Claro. Depois da epifania da ópera da Luísa Costa Gomes, Afterschool foi a minha segunda epifania. Foi aí que mergulhei no cinema de António Campos.
 
Curiosamente, uma portuguesa e um descendente de portugueses....
 
A sério, o António? Está a ver, é a epifania dos portugueses (muitos risos)...

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